Anti-Clímax num Palco Burlesco
Estava sozinho. Ele e ela. No metrô. Podia ser até uma história... dois adolescentes se beijando, docemente. O fato é que o metrô estava cheio de esperança, além de gente, mas essa gente só servia de pano de fundo, não teria graça colocar essa gente como algum fator realmente atuante. Mesmo o cara que comia seu pastel, empestando o ar com o cheiro de gordura, tentando invadir com um sentido que não estava sendo usado. Pastel finalizado voltamos com o tato, vendo o casal, já que a visão é um sentido pobre, pois não passavam de um casal de namorados se vistos sem tato.
Era um homem de meia-idade, que era de meia-idade só porque pintava os cabelos e a barba, que estavam mal-feitas e dispostas num rosto marcado pelas longas meias-idades que passaram há muito, quase como um único ser com ela, que era um pouco mais jovem... de meia-idade mesmo. O terno preto, com riscas de giz se contrastava com o vestido florido, assim como o possível propósito da viagem.
As pessoas, ordinárias, serviam realmente como um pano de fundo para eles, primeiro porque estavam realmente sozinhos, e à medida que as estações passavam, como num teatro as pessoas ordinárias ao fundo marcavam os instantes, mudando a paisagem de verão para inverno, para outono.
De repente se separam, ela segue normalmente seu destino. Destino mesmo, na estação do metrô deixando-o para trás. Não era um adeus, iam se encontrar à noite, perguntar como foi o dia um do outro. A paisagem ganhava mais uma pincelada, mas o palco ficava vazio.

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