Castanho-verde-claro
Nunca imaginou que este dia chegaria... mas lá estava finalmente, no trem de sua partida, olhando pela janela, olhando sua cidade, que já ia se transformando numa lembrança, não necessariamente agradável, mas penosa, tanto por partir, quanto por ficar. “Nunca mais voltar”, pensava, e até dava um arrepio na espinha, deixava os olhos mareados. Na cabeça uma certa confusão, uma vontade de olhar pra trás e voltar para os braços dela. Mas tinha decidido, e com essa decisão a incerteza dos novos caminhos, e nada melhor, e pior do que a incerteza dos novos caminhos.
Sempre fora avesso ‘a qualquer tipo de mudança, evitava-as ao máximo. Já perdera muitas oportunidades por temer novos caminhos. E desta vez caminhava por trilhos totalmente desconhecidos...estava muito temerário, mas em mesma dose, seduzido.
Cada vez mais rápido o trem ia deixando a cidade, que não era mais a sua. Queria saber se estava certo, pois a dor estava muito forte; tão forte quanto a vontade de voltar. Só clamava por algum tipo de sinal, qualquer que mostrasse que com certeza haveria a bonança depois da tempestade, porque, realmente, estava chovendo muito, e há muito tempo!
Cansado de provocar em si próprio lembranças e sentimentos de auto-piedade, convencia a si próprio a aceitar o desafio. Fechava a janela e tentava dormir, inutilmente. De repente, um olhar ao lado. E testemunhou um olhar tão intenso, tão acastanhadamente verde, tão mútuo, quanto testemunhou um renascimento. As amarras não existiam mais. E dormiu... um sono muito mais acordado do que sempre tinha sido. E o que teria sido, iria começar a ser. Começava a entender as regras do jogo...